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Igrejinha da pedra é ponto turístico para ciclistas em Dourados
Depois de 30 anos, construção que homenageia pioneiros torna-se ponto turístico em Dourados e recebe "invasão" de cicloturistas aos finais de semana
DOURADOS AGORA
Uma pequena igrejinha de pedra em meio a uma plantação tornou-se um dos pontos atrativos de Dourados. Com estilo arquitetônico espanhol, homenageia famílias que deixaram o Rio Grande do Sul, para desbravar terras então mato-grossenses. E lá se vão mais de 120 anos da chegada destes pioneiros, dentre eles os de sobrenome Mattos, que se deslocaram da longínqua São Luiz Gonzaga, localizada na Região das Missões, próxima da fronteira com Argentina. Aliás, a igrejinha foi edificada para homenagear esta família, que hoje é uma das maiores e mais representativas de Dourados e toda região fronteiriça de MS.
Com a pandemia da Covid-19, andar de bike virou uma opção de lazer e atividade física. E um dos principais roteiros dos cicloturistas é visitar a igrejinha. Distante pouco mais de 20 quilômetros da cidade (nas proximidades do campus da UFGD e aeroporto), nos finais de semana chegam em grupos, fotografam e postam fotos em redes sociais. E como um ciclista que se preza, além de pedalar gosta de boas fotos. E os flashes vão para as redes sociais.
Aline Robles, bancária e que reside em Dourados há três anos, é praticante do cicloturismo. Ela conta que viu amigos publicar fotos, como a colega de trabalho Lívia Marin. Esta disse que a igrejinha era um local de relaxamento emocional, aliviando o estresse do dia a dia. Encantada, foi até lá. "Uma sensação incrível, um lugar deslumbrante", disse Aline, que também postou em suas redes sociais fotos da visita.
Para a assistente social Patrícia Vieitas, o lugar é magnífico. Carioca, mas morando em Dourados desde 2011, visitou pela primeira vez em uma ensolarada tarde de domingo. Saiu de lá encantada com o que chamou de "tesouro arquitetônico". Outro atraído foi o servidor público Franz Mendes, apaixonado por fotografia, mostrou através de suas lentes a exuberância antes pouco divulgada. Conta que via amigos sempre postando fotos, então por se considerar um curioso nato, resolveu ir também. "Não perdi a oportunidade, fotografei sob vários ângulos". A também servidora pública Ana Fuchs é outra que constantemente vai a igrejinha. Descendente de pioneiros, diz que vivencia momentos de reflexão, "em busca de experiências especiais que se tornam sustentação para minha fé", conta.
A saga dos Matos
A turismóloga e professora Alaíde Brum de Mattos resume que uma caravana partiu de São Luiz Gonzaga nos idos de 1900, objetivando uma vida melhor. Neta de Amandio Mattos, conta que dezenas de pessoas viajaram por meses. Foram mais de mil quilômetros em carroças e carros de boi. O grupo era liderado por José de Mattos Pereira. "Infelizmente muitos não resistiram a viagem, mas os que conseguiram chegar marcaram seus nomes na história, e realizaram o sonho de reencontrar paz e prosperidade nas novas terras", relata a turismóloga. Na caravana também vieram ex-escravos e agregados da família.
O porquê da construção da igrejinha de pedra
A Fazenda Antolin Cuê já foi de propriedade de Celso Muller do Amaral, mas foi Mardônio Alencar que edifica a igrejinha ao lado do cemitério, em 1990, que segundo Alaíde, mostrou-se arrojado ao identificar o cemitério como célula viva do patrimônio histórico de Dourados, em homenagem aos Mattos, "reconhecendo o papel da família no contexto histórico". No cemitério estão sepultados, além de Amândio, Bento, Francisco, Clarinda, Piragibe, Jobe, José Augusto e Doralina, todos de sobrenome Mattos, além de outros. Depois de o lugar ficar mais conhecido, Américo Brum de Mattos, neto de Amandio, por conta própria, resolveu fazer melhorias no local, tornando o espaço mais aprazível.
Já existe um movimento que busca tornar o local patrimônio histórico e cultural. O jornalista João Carlos Torraca, também descendente dos Mattos, disse que Dourados conta com inúmeros pontos para visitação ainda desconhecidos ou pouco explorados, e diz que seria importante o poder público, por meio dos órgãos competentes, catalogar esses pontos e buscar meios para a preservação e conservação. "A história de Dourados é vasta e riquíssima e temos não só o dever, mas a obrigação de preservá-la para as futuras gerações", opina Torraca. (*advogado e jornalista e adepto do cicloturismo).